‘Vamos fazer lockdown na aldeia’: governança indígena e desgoverno (6-11-20)

‘Vamos fazer lockdown na aldeia’: governança indígena e desgoverno

Carlos Fausto

6-11-20

A covid-19 começou como uma doença de ricos, mas se espalhou seguindo a topologia da desigualdade brasileira. E, nesse quesito, os indígenas se juntam aos mais pobres, entre os quais não apenas se observa um número maior de casos, como também uma porcentagem maior de óbitos

Meu primo Kanari Kuikuro me telefonou várias vezes no sábado pela manhã. Eu estava na feira — sábado é o dia em que saio do confinamento para abastecer a casa. Ao chegar, vi na tela do celular as várias ligações perdidas. Só podiam ser más notícias. E eram. A covid-19 havia, enfim, chegado ao Alto Xingu.

Conversamos por meia hora, sem mais falar sobre a epidemia de sarampo do tempo de seu avô. Afinal, o nosso tempo é agora; a epidemia é desta geração. Entrei no grupo de WhatsApp das lideranças kuikuro para confirmar a informação. A voz calma de Mutuá, hoje vereador em Gaúcha do Norte, pedia a todos que aguardassem a confirmação oficial. Ela veio à tarde, por meio de uma nota técnica do DSEI (Distrito Sanitário Especial Indígena) do Xingu. O cacique da aldeia Sapezal e seu filho tinham sido retirados da área apresentando quadro de SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave). Testaram positivo para covid-19 e foram transferidos para Cuiabá. Há notícias, ainda não confirmadas, de outros casos na fronteira leste do Parque Indígena do Xingu, onde se localiza a aldeia atingida.

Artigo completo: https://www.nexojornal.com.br/ensaio/debate/2020/%E2%80%98Vamos-fazer-lockdown-na-aldeia%E2%80%99-governan%C3%A7a-ind%C3%ADgena-e-desgoverno